1월, 2020의 게시물 표시

CBE Nunca fala da Vida

Nunca fala da Vida Nunca fala da Vida sem que entristeça… - Mas flores que morrem nascem outra vez… Mas pela ardentia zunem as cigarras… Mas aquela moça traz no ventre um filho… Mas das folhas secas que há pelo Outono (de olhá-las a gente quase entristecia) já ninguém se lembra quando é Primavera… ========== Never speaks of Life Never speaks of Life without being sad ... - But flowers that die they are born again ... But by the ardent hum the cicadas… But that girl a child is born… But of dry leaves for autumn (from looking at them we almost saddened) nobody remembers anymore when it's spring ...

PS Fé, Sebastião da Gama

Fé Falas - e és a Pastora. Não contes a visão, nem as palavras que a Senhora te disse: apenas fala. Falas e em tudo creio. Até no Mundo. És a Pastora, fala. Fala apenas. ======= Faith You speak - and you're the Shepherdess. Do not contain the vision or the words that the Lady said to you: just speak. You speak and believe everything. Even in the world. You are the Shepherdess, speak. Just talk.

PS Raiz, Sebastião da Gama

Raiz Tanto dissemos tu e eu, tanta palavra!... E os enganos, as lutas, aspromessas... Como tudo vai longe! Como tudo foi útil e preciso! Olha, vem à janela... Lá em baixo no largo, brincam, junto da fonte, os moços e as meninas. Alegres todos, riem. Nem reparam como é triste uma fonte que não corre. O que hão-de eles saber ?! Têm cinco, seis anos...                                             Da janela vemo-los bem. Vem à janela olhá-los, felizes como nós... ====== Root So much you and I said, so much word! ... And the mistakes, the struggles, the promises ... How it all goes away! How useful and accurate everything was! Look, come to the window ... Down there on the square, The boys and girls play by the fountain. Everyone is happy, laugh. They don't even notice how sad is a fountain that doesn't run. What do they know ?! They are five, six years old ...                                              From the window we see them well. Come to the window

PS O outono é triste, Sebastião da Gama

Aonde estou não há outono. O Outono é triste… Aqui não deixam nunca as folhas de ser verdes E há arelva e os rebentos e a alegria dos pássaros… E os sítios em que amámos?... Vou contigo, Mulher, Vamos de braço dado aos sítios de outro tempo… Ah! Que não vemos musgo, muros velhos, mofo… Saudades?... Nem ao menos saudades… Somos os dois tão jovens!... Lá vai uma flor nova romper. Detemo-nos, deixamos De respirar – e eis o botão rasgado e a flor aberta... ====== Where I am there is no autumn. Autumn is sad ... Here the leaves never stop being green And there are harps and the shoots and the joy of birds ... What about the places we loved? ... I'm going with you, Woman, Let's go arm in arm to the sites of another time ... Ah! That we don't see moss, old walls, mold ... Miss you? ... Not even miss you ... We are both so young! ... There goes a new flower to break. We stop, we leave Breathing - here is the torn button and the open flower ...

PS O Zambujeiro, Sebastião da Gama

Deus disse: "O Zambujeiro nasça". Viril, rompeu da terra o Zambujeiro. O tronco é o dum homem das montanhas. São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas, Delicadas, suaves... Pela noita, Quando tudo se cala, mesmo os pássaros, O Zambujeiro canta... ============ God said: "The Zambujeiro is born". Manly, Zambujeiro broke from the earth. The trunk is that of a mountain man. The branches are the hands of a digger. Only the leaves, Delicate, soft ... At night, When everything is silent, even the birds, The Zambujeiro sings ...

PS obsessão, Sebastião da Gama

Obsessão Quero a Noite completa, desumana. A Noite anterior. A Noite virgem ... de mim. A Noite pura. Quero a Noite, aonde é impossível encontrar-te. Que não há rio nem rua nem montanha nem floresta nem prado nem jardim nem pensamento algum nem livro algum em que não me apareças, sorridente. ========= Obsession I want the complete, inhuman night. The night before. The virgin night ... of me. Pure night. I want the night, where it is impossible to find you. That there is neither river nor street nor mountain neither forest nor meadow nor garden neither thought nor book when you don't show up, smiling.

PS Tempestade, Sebastião da Gama

TEMPESTADE O Vento enchia o Mundo. Mal deixava lugar para a tremenda voz das ondas. Mas era o Mar apenas que se ouvia. ======= STORM The wind filled the world. Barely left place for the tremendous voice of the waves. But it was only the Sea that was heard.

PS esse tempo, Sebastião da Gama

Esse tempo ... Esse tempo era bom... Há tanto, coração! Mas é lembrá-lo e tê-lo mais uma vez à mão. Ah! que o Mundo e o Tempo não me levaram tudo... Tempo, azeda o meu vinho! Goteja sombra, Mundo! Sede o que sois... Que importa? -Deixais-me, Mundo e Tempo, um fio de Sonho ainda... De sonho me sustento. ========= That time ... That time was good ... There is so much, heart! But it is to remind you and have you again by hand. Ah! that the World and Time they didn't take me all ... Time, sour my wine! Shadow drips, World! Be what you are ... What does it matter? -Leave me, World and Time, a thread of Dream still ... I support myself from a dream.

PS Regresso à Montanha, Sebastião da Gama

REGRESSO À MONTANHA Regresso -- nem triste nem alegre: receoso.... E o marulhar das ondas é o mesmo... A mesma, a cor do Mar... A maresia tem sobre mim o mesmo sortilégio... E o mato cheira como dantes...Fala comigo como dantes, reza, escuta... E o perfil da Montanha, como dantes. adoça-se no escuro... E a canto da Noite, recolhido, mudo de tão feliz, o Adolescente... ======== RETURN TO THE MOUNTAIN Return - neither sad nor happy: afraid .... And the waves are the same ... The same, the color of the Sea ... The sea air has the same charm on me ... And the bush smells like before ... Speak with me as before, pray, listen ... And the profile of the Mountain, as before. sweeten up in the dark ... And the corner of the Night, collected, so dumb, the Teenager ...

PS Madrigal a uma estrela, Sebastião da Gama

Madrigal a uma Estrela De histórias de estrelas ninguém quer saber. Não conto, não conto... Quem é que te quer, história da estrela que fica por cima da minha janela? Tão bela! Tão bela! Comigo te guardo na vida e na morte. Serás um segredo... Será uma estrela que eu leve a meu lado na vida que leve... Escura que seja - que vida tão clara! Que noite tão branca a noite que eu durma (debaixo da terra) debaixo da estrela! Não conto. Não digo. Comigo te guardo. Assim tu, ó estrela, me guardes contigo... ======= Madrigal to a Star From stories of stars nobody wants to know. I don't count, I don't count ... Who wants you, star story on top from my window? So beautiful! So beautiful! With you I keep you in life and death. You'll be a secret ... Will be a star that I take by my side in life that leads ... Dark as it may be - what a clear life! What a white night the night I sleep (underground) under the star! I do not coun

PS O Sonho, Sebastião da Gama,

Pelo sonho é que vamos, Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não frutos, Pelo Sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo Que talvez não teremos. Basta que a alma demos, Com a mesma alegria, Ao que desconhecemos E ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? -Partimos. Vamos. Somos. ========= For the dream we are going, Moved and dumb. Are we there yet? Haven't we arrived? Whether or not there are fruits, For the Dream we go. Just faith in what we have. Just hope in that That maybe we won't have. It is enough for the soul to give, With the same joy, What we don't know And what is day-to-day. Are we there yet? Haven't we arrived? -We started. Let's go. Are.

PS Anunciação, Sebastião da Gama

Anunciação Quem bateu? Ouviste? Tão de manso..., tão... -Meu Amor, é gente? meu Amor, ou não? -Se será o Anjo, para anunciar?... -Fosse a noite calma, fosse o vento brando, viria...viria... Mas assim, Amor? Oh! a alma frágil nesta ventania? -Meu Amor, vais ver? -Meu Amor, pois vou... -Que perfume é este? Esta luz que entrou, esta paz que veio p'lo postigo dentro? -Meu Amor, não vez?!... -Meu Amor, não sentes?!... =========== Annunciation Who hit? Did you hear? So meek ..., so ... -My love, are you people? my love, or not? -If it will be the Angel, to advertise? ... -It was a quiet night, were the light wind, would come ... would come ... But like that, Love? Oh! the fragile soul in this gale? -My love, will you see? -My love, because I will ... -What perfume is this? This light that came in, this peace that came the wicket inside? -My love, no time?! ... -My love, don't you feel?! ...

PS Crepuscular, Sebastião da Gama

A Morta cheira a rosas. As suas mãos ficaram, brancas, sobre a cidade -- pombas brancas dormindo... A voz do Rei Dinis é um sussurro ao fundo. Choro? Reza? Descante? Louvor das que o amaram? Recorta-se no escuro, geométrica, a cidade. Cor das mãos da Rainha. Serena como elas. Aparecem as luzes primeiro que as estrelas. Um vento manso traz o aroma das herdades. E eis que a cidade toda é um presépio. Ouve-se a tropeada dos camelos, o riso dos pastores... Quem está nascendo? Que deus?, que príncipe?, que poeta? Mãos da Rainha Santa, dai-lhe abrigo: Não vá ser um ladrão. Não vá ser um mendigo. ========= Twilight Morta smells of roses. His hands stayed, white, over the city - white doves sleeping ... King Dinis' voice is a whisper in the background. Cry? Pray? Descant? Praise from those who loved him? The city is cut out in the dark, geometric. Color of the Queen's hands. Serena like them. The lights appear before the stars. A gentle wind brings the arom

PS Largo do Espírito Santo, Sebastião da Gama

Largo do Espírito Santo Nem mais, nem menos: tudo tal e qual o sonho desmedido que mantinhas. Só não sonharas estas andorinhas que temos no beiral.     E moramos num largo... E o nome lindo que o nosso largo tem! Com isto não contáramos também. (Éramos dois sonhando e exigindo.)     Da nossa casa o Alentejo é verde. É atirar os olhos: São searas, são olivais, são hortas... E pensaras que haviam nossos olhos de ter sede! E o pão da nossa mesa!... E o pucarinho que nos dá de beber!... E os mil desenhos da nossa loiça: flores, peixes castanhos, dois pássaros cantando sobre um ninho...     E o nosso quarto? Agora podes dar-me teu corpo sem receio ou amargura. Olha como a Senhora da moldura sorri à nossa alma e à nossa carne.     Em tudo, ó Companheira, a nossa casa é bem a nossa casa. Até nas flores. Até no azinho em brasa que geme na lareira.     Deus quis. E nós ao sonho erguemos muros, rasguei janelas eu e tu bordaste as cortinas. Depois, ó flor na hast

PS cantiga de amor, Sebastião da Gama,

cantiga de amor De onde estou, tão longe, vejo-te à janela. (Não te vejo, não: vejo-te sòmente na imaginação.) Onde estou, tão longe, chega a tua voz. Oiço um longo brado que é por mim que chama. Oh que lindo som! -- e é imaginado... Onde vou te levo, minha doce Amiga. Tenho-te onde estou. A cabeça dói-me porque o Sonho a cansa? -- Onde a descansara, se te não trouxera mesmo na lembrança? ========== love song Where am I from, so far, I see you at the window. (I don't see you, no: I see you only in the imagination.) Where am I, so far away, your voice comes. I hear a long cry it’s me who calls. Oh what a beautiful sound! - and it's imagined ... Where will I take you, my sweet friend. I have you where I am. The head hurts me Why does Dream tire you? - Where he had rested her, if I didn't bring you even in memory?

PS Imagem, Sebastião da Gama

IMAGEM Ó corpo feito à imagem de meu desejo e meu amor, ... que vais comigo de viagem p’ra onde eu for, que mar é este em que andamos, há três noites bem contadas e não tem ventos nem escolhos nem ondas alevantadas? que sol é este, que aquece, mas sereno, tão sereno, que nem te põe menos branca nem a mim põe mais moreno? que paz é esta, nas horas mais violentas e bravas? (Sorrias: ias falar. sorrias e não falavas.) que porto é este? esta ilha? que terra é esta em que estamos? (Era uma nuvem, de longe... Deixou de o ser, mal chegámos.) e este caminho, onde leva? e onde acaba este jardim que é tão em mim que é em ti? que é tão em ti que é em mim?... Ó alma feita à imagem do sonho que me desmede — que sede é esta que temos que é mais água do que sede? ========= IMAGE O body made in the image of my desire and my love, ... you are going with me on a trip wherever I go, what sea is this where we walk, there are three nights well told and there a

PS Sinal, Sebastião da Gama

Quanto amor me tens, com amor to pago. -- Trago-te no dedo, num anel que trago. Num anel redondo, todo de oiro fino, que é o teu sinal, que é o meu destino. Este anel me basta pra bater-te à porta. Truz! truz! truz! na rua como o frio corta! Como a chuva cai, como o vento mia! Mas abriste logo, que eu é que batia. (Que outro anel tivera som que te chamasse?) Já teu vinho bebo, pra que o frio me passe; Já na tua cama me aconchego e deito; já te chamo Esposa, peito contra peito. Como tudo é simples, como é tudo imenso! Ó mistério enorme, de um anel suspenso! E eis, na tua mão, num anel igual, brilha o teu destino, luz o meu sinal. ============ How much love do you have, with love so paid. - I bring you on the finger, in a ring that I bring. In a round ring, all of fine gold, which is your sign, that is my destiny. This ring is enough for me to knock you at the door. Truz! truz! truz! in the street how the cold cuts! As the rain fal

PS Nupcial, Sebastião da Gama

Vieram todos os poetas, trouxeram versos, trouxeram rosas. Repicam sinos, finamente..., cantam as Coisas. Ó meu Amor, cheia da graça que sobre os dois a um tempo desce nas horas pagas a desgosto ganhámos esta que não passa. Já o teu seio em flor emerge na minha vida como um barco. Vamos partir de nós pra nós. Cada manhã será mais perto. Ó estrela à mão qual uma flor, ó terra à espera da semente, ó singular, clara nascente, meu par na Dor e no Amor. Ó puro altar onde vou pôr em sacrifício a vida inteira, Deus te bendiga pla perfeita aceitação com que me esperas. ============ Nuptial All the poets came, they brought verses, they brought roses. Bells ring, finely ..., they sing things. O my love, full of grace what about the two at a time goes down in the hours paid in disgust we won this one that doesn't pass. Your bosom in bloom emerges in my life like a boat. Let's go from us to us. Each morning will be closer. O star at hand like a flo

PS Nosso é o mar, Sebastião da Gama

NOSSO É O MAR Nosso é o mar. Nosso e renosso. Pla dor, pla teimosia, pela esperança. Nosso até onde a vista o não alcança. Nosso até onde é nosso o que for nosso. Mas depois de o ter ganho abandonámos alma e corpo à fadiga de o ter ganho. Bartolomeu, não olhes. Não despertes Do sono que dorme há cinco séculos Já o gume das guilhas não fecunda teu ventre feminino, Mar aberto. Falsa energia a nossa! Desflorado teu sexo, Mar, aos corvos o cedemos Voluptuosa e saudável, tua carne é convite e oferta como dantes Nós, mortos! Nós, sem força! Nós, sem fogo, de uma saudade mole possuídos! ========= OUR IS THE SEA Ours is the sea. Ours and resignation. For pain, for stubbornness, for hope. Ours as far as the eye cannot see it. Ours as far as ours is what is ours. But after winning it we abandoned soul and body to the fatigue of having won it. Bartolomeu, don't look. Don't wake up From sleep that sleeps for five centuries The edge of the guillas does not

PS A uma rapariga, Sebastião da Gama

Somos assim aos dezassete. Sabemos lá que a Vida é ruim! A tudo amamos, tudo cremos. Aos dezassete eu fui assim. Depois, Acilda, os livros dizem, dizem os velhos, dizem todos: "A Vida é triste. a Vida leva, a um e um, todos os sonhos." Deixá-los lá falar os velhos, deixá-los lá... A Vida é ruim? Aos vinte e seis eu amo, eu creio. Aos vinte e seis eu sou assim. ========== We are like that at seventeen. We don't know that Life is bad! We love everything, we believe everything. At seventeen I went like this. Then, Acilda, the books say, say the old, all say: "Life is sad. Life takes, to one and one, all dreams. " Let them talk to the old people, leave them there ... Is life bad? At twenty-six I love, I believe. At twenty-six I am like this.

PS nunca o amar foi breve...Sebastião da Gama

Nunca o Amor foi breve, quando deu fruto. (Cantai, aves do ar, em volta de seu berço!) Sagre-o a Dor, nenhum Amor é vão. Exulta, voz das ondas! – O seu Amor floriu, deu fruto, como as árvores. Cantai, aves do ar, em volta do seu berço. Cintilantes do Sol, saltai ao Sol, peixes do Mar. Nunca o Amor foi triste. Nem a Vida foi menos bela. Baila contente, lágrima!, baila nos olhos dela. ===== Love was never brief, when it bore fruit. (Sing, air birds, around your crib!) Sacrifice it to Pain, no Love is in vain. Rejoice, voice of the waves! - His Love blossomed, it bore fruit, like the trees. Sing, air birds, around your crib. Twinkling in the Sun, jump in the Sun, sea fish. Love was never sad. Not even life it was less beautiful. Happy dance, tear !, dances in her eyes.

PS somos de barro, Sebastião da Gama

Somos de barro. Iguais aos mais. Ó alegria de sabe-lo! (Correi, felizes lágrimas, por sobre o seu cabelo!) Depois de mais aquela confissão, impuros nos achamos; nos descobrimos frutos do mesmo chão. Pecado, Amor? Pecado fôra apenas não fazer do pecado a força que nos ligue e nos obrigue a lutar lado a lado. O meu orgulho assim é que nos quer. Há de ser sempre nosso o pão, ser nossa a água. Mas vencidas os ganham, vencedores, nossa vergonha e nossa mágoa. O nosso Amor, que história sem beleza, se não fôra ascensão e queda e teimosia, conquista... (E novamente queda e novamente luta, ascensão... ) Ó meu amor, tão fria, se nascêramos puros, nossa história! Chora sobre o meu ombro. Confessamos. E mais certos de nós, mais um do outro, mais impuros, mais puros, nós ficamos. ========== We are clay. Just like the most. O joy of knowing it! (Run, happy tears, over your hair!) After that confession, we are unclean; we found out fruits from the same ground.

PS Poema Para Francisco Bugalho, Sebastião da Gama

Pra onde te levaram? Aqui é que é o Sol, o orvalho a esteva. Aqui é que os sobreiros e os teus versos dizem quem foste. O Céu é para os mortos. Tua égua lazã, tua seara teu gado, tua vinha bem sabiam que um vivo é que os sustinha. O Céu é para os mortos, Lavrador! Entre olivais, montados, trigos novos, ando a lembrar-te. Saudosamente aperto entre os meus dedos húmida, negra, cheia de promessa, terra que amaste. O Céu é para os mortos, Lavrador! -: Nesta terra fecunda é que ficaste. ======= Where did they take you? This is where the sun is, the dew the rockrose. Here is that the cork oaks and your verses say who you were. Heaven is for the dead. Your lazan mare, your harvest your cattle, your vineyard they knew that a living person was the one who supported them. Heaven is for the dead, Farmer! Among olive groves, montados, new wheat, I'm remembering you. Longingly squeeze between my fingers wet, black, full of promise, earth that you loved. Heave

PS Poesia depois da chuva, Sebastião da Gama

Depois da chuva o Sol - a graça. Oh! a terra molhada iluminada! E os regos de água atravessando a praça - luz a fluir, num fluir imperceptível quase. Canta, contente, um pássaro qualquer. Logo a seguir, nos ramos nus, esvoaça. O fundo é branco - cal fresquinha no casario da praça. Guizos, rodas rodando, vozes claras no ar. Tão alegre este Sol! Há Deus. (Tivera-O eu negado antes do Sol, não duvidava agora.) Ó Tarde virgem, Senhora Aparecida! Ó Tarde igual às manhãs do princípio! E tu passaste, flor dos olhos pretos que eu admiro. Grácil, tão grácil!... Pura imagem da Tarde... Flor levada nas águas, mansamente... (Fluía a luz, num fluir imperceptível quase...) ======= After the rain the sun - grace. Oh! the wet land lit up! And the water streams across the square - light flowing, in an almost imperceptible flow. A happy bird sings happily. Soon after, on the bare branches, it flutters. The background is white - fresh lime in the square's houses. Bells,

PS Viesses Tu, Poesia, Sebastião da Gama

Viesses tu, Poesia, e o mais estava certo. Viesses no deserto, viesses na tristeza, viesses com a Morte... Que alegria mereço, ou que pomar, se os não justificar, Poesia, a tua vara mágica? Bem sei: antes de ti foi a Mulher, foi a Flor, foi o Fruto, foi a Água... Mas tu é que disseste e os apontaste: -- Eis a Mulher, a Água, a Flor, o Fruto. E logo foram graça, aparição, presença, sinal... (Sem ti, sem ti que fora das rosas?) Mortas, mortas pra sempre na primeira, morta à primeira hora.)           Ó Poesia!, viesses           na hora desolada           e regressara tudo           à graça do princípio... =========== You came, Poetry, and the most was right. You came in the desert, you would come in sadness, you would come with Death ... What joy I deserve, or what an orchard, if you don't justify them, Poetry, your magic stick? I know well: before you was the Woman, it was the flower, it was the fruit, it was the water ... But you said and po

PS Janelas de estremoz Sebastião da Gama

Janelas de Estremoz Janela fechada, cortina corrida... Nem flor a perfuma, nem moça a enfeita. - Ninguém se lhe assoma. Janela tão triste, nem ao Sol aberta... Em toda a cidade se repete a história mil vezes; mil vezes, se olhares a janela ou desta ou daquela casinha caiada, a vês divorciada do Sol e de tudo que graça lhe dera. Há vinte janelas na casa da esquina? - Na rua de cá dez estão fechadas; outras dez, fechadas na rua de lá. Ah! tão retraídas! Ah! tão agressivas! Que pessoas vivas foi que as condenaram? Ó janelas mudas, pobres prisioneiras!, que pessoas vivas, por que expiação, vivem na prisão em que vos meteram? - sem sol que as aquente... sem flor que as alegre... Janela cerrada, cortina descida... Mocinha escondida por trás da janela - quanto mais não vale a rosa encarnada que a rosa amarela!... ============ Windows of Estremoz Window, running curtain ... Neither flower nor perfume, nor does a girl decorate it.

PS Presépio, Sebastião da Gama

Presépio Nuzinho sobre as palhas, nuzinho - e em Dezembro! Que pintores tão cruéis, Menino, te pintaram! O calor do seu corpo, pra que o quer tua Mãe? Tão cruéis os pintores! (Tão injustos contigo, Senhora!) Só a vaca e a mula com seu bafo te aquecem... - Quem as pôs na pintura? ======== Nativity Scene Nice on the straws, nuzinho - and in December! What cruel painters, Boy, they painted you! Your body heat, what does your mother want? So cruel are the painters! (So unfair to you, Lady!) Only the cow and the mule with your breath they warm you ... - Who put them in the painting?

PS Lá fora é que sim, Sebastião da Gama

Lá fora é que sim Lá fora é que sim me apetece estar... Não ao pé do altar, Virgem de Belém. E se eu for lá para fora?... amava-te igualmente... só o modo era outro de rezar e de ser crente. Lá fora também andas... Sem manto, sem coroa, simples, Nossa Senhora! Que mais linda és lá fora!... Vais à fonte ( e eu a ver-te entre as mais raparigas -virgens, sem filhos essas) encher a tua bilha. Vais lavar o menino mas a água é tão fria!... queres que te acenda o lume, Virgem Maria =========== Out there yes Out there yes I feel like being ... Not at the foot of the altar, Virgin of Bethlehem. What if I go outside? ... I loved you equally ... only the way was different to pray and to be a believer. You walk outside too ... Without mantle, without crown, simple, Our Lady! How beautiful you are out there! ... You go to the source (and I see you among the most girls virgins, without these children) fill your pitcher. You will wash the boy but the

claridade, Sebastião da Gama

De minha vida não sei senão que sou feliz. Lá o que fui ou fiz antes de ser o que sou, ai!, tudo me passou: só sei que sou feliz. E que me importa a cor das águas que passaram? Estas águas me bastam que vão correndo agora. Fosse o que fosse, a minha passada vida incerta (feliz ou desgraçada), foi uma porta aberta pra esta vida clara. Por isso eu a bendigo, a minha vida ida. Talvez as rosas nela tivessem bem mais cor, o Sol mais Luz e Amor, e música mais bela a viração, então; mais verde fosse o Mar... - Mas que vale o que foi, se, quanto vejo ou provo, tem tudo um gosto novo?... Se nada cansa ou dói?... Se as rosas, para mim, nasceram mesmo agora, e as aves e o Mar?... Se o Sol aconteceu ao mesmo tempo que eu olhei à minha roda e vi o meu presente a ser-me a vida toda?... ============ I don't know about my life but I'm happy. There what I did or did before I am what I am, oh, everything happened to me: I only know that I am happy.

alegria, Sebastião da Gama

Alegria Nas capelas todas os sinos todos... toquem ... Que digam minha Alegria ( eu não preciso dizê-la ; ai ! a mim , sinos , basta-me vivê-la ) Os sinos todos toquem ... E rosas silvestres nasçam onde ninguém as sonhasse ,,, E o rouxinol se esqueça , cantando minha Alegria , do que o levou a cantar ... E os sinos todos toquem ... e que eu por fim, ao som dos sinos cante, mas não perceba que o faço mandado por minha clara Alegria. Que julgue que vou cantando as rosas bravas nascidas e os rouxinóis enlevados e os sinos todos tocando ... ======== Joy In the chapels all the bells all ... touch ... Say my Joy (I don't need to say it; there ! to me, bells, I just need to live it) The bells all touch ... And wild roses are born where no one dreamed of them ,,, And the nightingale forget it, singing my Joy, than what led him to sing ... And the bells all touch ... and that I finally, to the sound of the bells sing, but don't r

quem me quiser amar, Sebastião da Gama

Quem me quiser amar Quem me quiser amar, que me leve fechado no meu mistério... Me leve como um presente imerecido, vindo não se sabe de aonde - sempre com medo que lhe fuja da caixinha cor da bruma em que se esconde. Quem me quiser amar, me leve, sem se importar de perguntar o que eu valho. - Já lhe basta essa alegria de saber que me possui, de saber que eu valho mais que quanto puder pensar. ========= Whoever wants to love me Whoever wants to love me, take me closed in my mystery ... Take me as an undeserved gift, coming you don't know where - always afraid to run away of the mist-colored box where you hide. Whoever wants to love me, take me without caring to ask what I'm worth. - That joy is enough for you to know that you own me, to know that I am worth more as much as you can think of.

poeisa, SEBASTIÃO DA GAMA

Ai deixa, deixa lá que a Poesia no perfume das flores, no quebrar das ondas pela praia, na alegria das crianças que riem sem porquê — deixa-a lá que se exprima, a Poesia. Fica sentado aí onde estás, Poeta, e não mexas os lábios nem os braços: deixa-a viver em si; não tentes segurá-la nos teus braços, não pretendas vesti-la com palavras... Se a queres ter, se a queres sempre ver pairando à flor das coisas, fica aí no teu cantinho, e nem respires, Poeta, e não te bulas, p'ra que ela não dê por ti. Não a faças fugir, toda assustada com a tua presença... Deixa-a, nua, pairando à flor das coisas, que ela não sabe que a viste, nem sabe que está nua, nem sequer sabe que existe... ============ Oh no, never mind that Poetry in the scent of flowers, in breaking of the waves by the beach, in joy of children who laugh without reason - leave it there to express itself, Poetry. Sit there where you are, Poet, and don't move your lips or arms: let it live in i

minuto, SEBASTIÃO DA GAMA

MINUTO Ai como tu foste linda naquele breve minuto ! ...... Ninguém o viu senão eu ... Nem mesmo tu, que hás-de ainda, com um sorriso, troçar do que digo nestes versos. Bem sei que tu és bonita ... Mas olha : se eu algum dia passar, sem dizer adeus, por ti, não julgues que foi por mal : é que não te conheci- -- pra mim só é verdadeira, só me lembra sempre, a linda que foste naquele minuto breve ... ======= MINUTE Oh how beautiful you were that brief minute! ...... Nobody saw him but me ... Not even you, who are there yet, with a smile, mock of what I say in these verses. I know you're beautiful ... But look : if I ever pass, without saying goodbye, for you, don't think it was wrong: is that I didn't know you - for me it's only true, just always reminds me, the beautiful what were you in that brief minute ...

convite a ser-se moço, Sebastião da Gama

CONVITE A SER-SE MOÇO Não! —que há-de vir nova sorte; que estou na casa dos vinte, a minha Noiva é moça e confiante, e todas as manhãs surgem de cada tronco mais rebentos que o Sol baptiza. NÃO! AINDA NÃO! Reprime, Jovem, essa grande vontade de chorar, não vá julgar-te a Vida algum estranho por quem passe indiferente e distraída. Como há-de agasalhar-te, como há-de, Jovem, se te não reconhece por seu filho?... AINDA NÃO! Agora, esquece o que tu crês motivo pra chorar (seja tristeza, Jovem, ou saudade), reprime o choro e merece a tua mocidade... =========== NVITATION TO BE A YOUNG MAN No! —That new luck will come; that I'm in my twenties, my Bride is young and confident, and every morning more shoots emerge from each trunk that the sun baptizes. NO! NOT YET! Represses, Young man, this great desire to cry, do not go to judge Life a stranger by those who pass indifferent and distracted. How will you wrap up, how are you, youn

Soneto do Tempo Perdido, sebastião da gama

SONETO DO TEMPO PERDIDO Passo às vezes os dias distraído de mim, vou ao café, vou conversar,... e não paro um segundo a escutar o que terá cá dentro acontecido . Vivo a vida dos outros, esquecido de que o meu Fado é mais do que passar. Ah ! bem sei que vim para contar a minha alma plena de sentido ! Muito me dói o que fuigi então ! ... - Pra mim próprio me pus costas-voltadas, e, tudo que em mim foi, foi tudo em vão. Quanta coisa foi quase pequenina ( e surgira pra ser das celebradas ) só por eu ter burlado a minha Sina ! ========== SONNET OF LOST TIME Sometimes I spend my days distracted me, I go to the cafe, I’m going to talk, ... and I don't stop listening for a second what will have happened here. I live the lives of others, forgotten that my Fado is more than passing. Ah! I know I came to tell you my soul full of meaning! It really hurts me what I did then! ... - I turned my back on myself, and everything that was in me was all in vain. How

elegia breve, sebastião da gama,

ELEGIA BREVE Ai a beleza das rosas!... Porque não morro antes delas quando passo no jardim e, enquanto as olho, se fanam sem terem pena de mim? ======= BRIEF ELEGY Oh the beauty of roses! ... Why don't I die before them when I step in the garden and while I look at them, they fan without feeling sorry for me?

canção, sebastião da gama

canção Minha alegria vive. Qual rubra flor ao Sol, abre-se toda, pura. Não sei lá em que ponto do Tempo e do Espaço imaculada, inteira,     ...mas longe do meu braço. E tempo foi em que eu passei por onde vive. Como ela me sorria, feliz, e me beijava? Porquê me não detive? Porque é que eu abalei de onde a minha Alegria comigo se casva? Se a hora não fugia, porque é de sempre, e o sítio também, onde ela estava, Porque é que eu lhes fugi como se a minha vida não fosse procurá-los? Longe, lá não sei onde no Tempo e no Espaço, minha Alegria paira. Etérea paira, linda.... E eu encholho-me, triste, no fundo da cadeira. Não sei se chore ou não. -Que, se eu parasse então quando passei por ela e todo me entregasse ainda viveria mas ai! já não seria tão pura e tão inteira, talvez, minha Alegria. =========== song My joy lives. Like a red flower in the sun, it opens up, pure. I don't know where of Time and Space immaculate, whole,      ... but

as rosas, sebastião da gama

as rosas As rosas não nasceram... as rosas que eu pedi, cansado de olhar a mesma cor. Existentes em si as rosas não nasceram... Previram que o acto de nascer se confundia nesse de as eu logo colher. As rosas não nasceram... Temeram murchar nas minhas mãos, só por serem nascidas. Ai rosas existentes, ai rosas cautelosas, mas rosas ignorantes!... -Como elas nasceriam ai! se soubessem, rosas, que nunca murchariam em minhas mãos!...                        Ai! rosas, não haverá quem possa fazer-vos entender que a minha vida é a própria vida vossa? ... Surgi, srugi, sem medo, que o meu olhar se cansa de olhar o mesmo verde!... Meus dedos são saudades de pétalas futuras... Ai rosas, que existis ocultas em vós mesmas, nascei, que eu quero ser vosso perfume unindo as nuvens com a Serra. -Eu quero esquecer (vivendo-me perfume) que tenho as mãos de terra. ========= the roses Roses were not born ... the roses that I ordered, tired out to look th

Elegia desta manhã, Sebastião da Gama

Elegia desta manhã Eu sei de virgens que só por mim foram virgens... e que morreram assim ; Eu sei de rosas viçosas que viram seu viço inútil, porque esperaram por mim sem que eu as fosse colher ; sei de caminhos aonde a erva nasceu, nos sítios em que deviam deixar seu rasto meus passos ( e os caminhos eram claros como rios ... ) ; sei de palácios onde o lume se apagou e o musgo cresceu nos muros, a aonde as almas das salas, que ansiavam minha vinda como princesas, emurcheceram em pó ... Não posso ser feliz ! ... Não posso ser feliz ! ... Mais nítida que qualquer minha alegria. há-de ser sempre a dor de me lembrar de as coisas que foram minhas e foram lindas e nunca as viram meus olhos ; a dor que é afinal essa mesma que sentia cada uma, quando esperava por mim já sem esperança nenhuma . Não posso ser feliz ! ... Não posso porque não sei de que serviu a beleza, para onde foi a beleza das coisas que já não são e morreram de tristeza de serem b

do meu amor, SEBASTIÃO DA GAMA

Do Meu Amor Chamem por mim (se no chamarem também vou), chamem por mim os leitos secos de rios, que este rio que sou irá correr por eles... Ai florinhas da margem, quase murchas! Ai rebanhos que morrem pelas margens! — Eu correrei, mansinho como a Tarde... Heis-de parir ainda, ovelhas brancas! Heis-de ainda dar mel, florinhas tristes! Menina feia, com pena de se chegar à janela (pena de si, que já sabe que nAo vo olhar pra ela) anda, vem-te mirar no rio que passa! Um instante que seja, terás graça; serás feliz se depois a saudade te lembrar que ao menos por um dia foste bela. Como um lago entornado, azul e brando, irei onde boca ou raiz me grite sede. Já não posso conter esta corrente calma; trago nos meus sentidos almas vagas de andorinhas, que meigamente estrebucharam neles e morreram e pedem que as liberte... Por isso vou, mas vou sem fúrias caudalosas. Vou, como a Tarde cai ou como o lago se entorna; como o vooo subtil duma gaivota que não fica o

para que tu não chores, SEBASTIÃO DA GAMA

PARA QUE TU NÃO CHORES O príncipe gentil que vislumbraste nos teus sonhos rosados de Menina,... e de gestor-perfume cristalina voz que te mate a sede e nunca baste ( porque a sede que tinhas prolongaste para sempre beber a voz divina ), o príncipe gentil da tua sina sou eu, Amor, tu próprio mo chamaste . Mas se eu não fôr tão belo como creste ? Se esfacelar teu sonho, porque eu ando longe de ser o Puro a quem te deste ? - Vamos lá procurar o que não veio ( eu bem sei que ele veio ) e, quando em quando, deixa que eu chore à sombra do teu seio .. ====== Lest you cry The gentle prince you saw in your pink dreams of Girl, ... and crystalline perfume manager voice that quenches your thirst and is never enough (because the thirst you had prolonged to always drink the divine voice), the gentle prince of your lot it's me, love, you called me yourself. But if I am not as beautiful as you believed? If your dream shatters, because I walk far from being the

Crepuscular, SEBASTIÃO DA GAMA

Crepuscular Já não são horas, meu Amor... A hora... passou em que era grato a gente amar. É um querer de Irmão este de agora. Nem a Tarde é já o cravo rubro de inda há pouco: é um murmúrio quase... um lírio inexistente dulcificando as coisas, perfumando-as de carinhos... Não é a hora, Amor. Agora deixa sorrir em nós a peregrina ternura da Paisagem. Não desprendas as mãos das minhas... Abandona-as, mas castas como berços... E beija-me na testa... Quando a Noite mansa vier vindo, Amor, beija de manso a minha testa... De manso, meu Amor... Como se o lírio da Tarde se fechasse... =========== Twilight It's not time, my love ... The time ... passed on in which we were thankful to love. It is a wish of Brother this now. Not Afternoon it is the red carnation still: it's a whisper almost ... a non-existent lily sweetening things, perfuming them of affection ... It is not the time, Love. Now let the pilgrim smile on us tenderness of the landsc

a meus irmãos, SEBASTIÃO DA GAMA

A Meus Irmãos Batam-me à porta os que andam lá por fora, à neve; ... batam os que tiverem frio ou sede; os que sintam saudades de um carinho; os desprezados; os que há muito não vêem uma flor e encontram só poeira no caminho; os que não amam já nem já os ama ninguém; os esquecidos de como se sorri; os que não têm Mãe... Batam-me à porta os Desgraçados, os que têm os dedos calejados dos dedos ásperos da Miséria, o s que travam desordens nas tavernas e brincam às facadas, os que não têm abrigo nem Amigo, os que o Destino escarrou, os que não foram crianças, os que nasceram num bordel e por quem passam todos sem olhar. Batei à minha porta, Irmãos, entrai, que eu tenho Amor pra vos dar... E se eu também bater (que eu também choro muitas vezes, lá por fora; também amargo tristezas; que eu também sou Desgraçado)... Pois se eu bater, vinde logo depressa abrir-me a porta; aquecei-me no meu lume; dai-me do pão que eu parti e do Amor que vos dei... Deixai-m

Excesso, SEBASTIÃO DA GAMA

Excesso Agora, que estou de Poesia todo embriagado,... agora, que todo doido e em convulsões como se envenenado, não quero mais que o teu sono ... Compreendes , Amor ? ... Quero deitar-me ao teu lado, e que o meu corpo fique ali como um penedo a que a minh'alma se me ausente e, unida à tua não sendo já senão a tua, durma teu sono de pomba, o teu sono de pomba, cor-de-rosa, e não os meus pesadelos ... Compreendes, Amor ? ... Dormir, não meus, mas teus soninhos mansos em que há meiguices de fadas e sorrisos de crianças que são como se Deus nos perdoasse ... Porque eu não posso, Amor, suportar o veneno que Deus ( ou o Diabo ) misturou no meu vinho ... Que bom que me seria agora ser não eu, o Lua, o pelo Raio atravessado, mas tu, ou qualquer outra virgem no seu quarto sonhando com o Príncipe Encantado ! ... ============ Excess Now that I'm of Poetry all drunk, ... now, that all crazy and in convulsions as if poisoned, I want nothing more than

pequeno poema, SEBASTIÃO DA GAMA

Pequeno Poema Quando eu nasci, ficou tudo como estava. Nem homens cortaram veias, nem o Sol escureceu, nem houve estrelas a mais... Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu. Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu. As nuvens não se espantaram, não enlouqueceu ninguém... Pra que o dia fosse enorme, bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe... ======= Little Poem When I was born, everything was as it was. Not even men cut veins, nor did the sun darken, there weren't even more stars ... Only, forgotten about the pain, my mother smiled and thanked me. When I was born, there was nothing new if not me. The clouds were not surprised, didn't drive anyone crazy ... For the day to be huge, it was enough all the tenderness that looked in my mother's eyes ...

cortina, SEBASTIÃO DA GAMA

CORTINAS Que a Morte, quando vier, não venha matar um morto.... Quero morrer em pujança. Quero que todos lamentem a ceifa de uma esperança - não sendo eu já de mim nem de meu sonho também, mas sendo um sonho já deles ; já tão deles que hão-de crer que o levantaram , tão seu que, ao secar, lhes vai doer e vai deixar pedaços vivos nas mãos ( cristais quebrados rasgando-as ), saudades vivas no olhar . Quero morrer com os dedos a quatro dedos do Céu, pra que depois pensem que eu só por morrer não cheguei, só não cheguei por tração ( pra que não saibam que a Morte foi a minha salvação ) Ai medo antigo que eu tenho e só a mim, que entendo, posso contar à vontade não de o Céu não ser verdade ( meu sonho astral é tão grande que, nem que fosse vazio, meu sonho havia de encher de céu esse vazio sem fundo ) mas de se as asas partirem antes do pano descido, à vista de todo o mundo.. Como há-de ser bom morrer , suspenso lá nas alturas ! ... Não vir cair na

Diário de Bordo, SEBASTIÃO DA GAMA

Cá estou eu a julgar que vou remando... Cá vai Deus a remar e eu a ser um remo com que Deus rasga caminhos pelo Mar... =============== Here I am judging that I am rowing ... Here God goes rowing and me to be a paddle with that God tears paths by the Sea ...

itinerário, Sebastião da Gama

Itinerário Meu caminho é por mim fora, até chegar ao fim de mim... a encontrar-me com Deus ... Mas lá no fim eu vou sentir-me tão outro. tão igual ao Senhor Deus que ali mora, que hei-de ficar convencido de que afinal só Tu, Senhor, lá estás e que eu fiquei para trás, de cansado ou de perdido no meu caminho comprido . É só por mim é que eu vou e as bermas do meu caminho, são as passadas que dou . E não me digam que não, que eu não me importo de ir só ; minha Esperança, na minha voz comovida espelhada, sabe encher a solidão das curvas mudas da estrada . =========== Itinerary My way is through me outside, until the end of me ... to meet God ... But at the end I will feel so different. so equal to the Lord God who lives there, that I will be convinced that after all only You, Lord, there you are and that I stayed behind, of tired or lost on my long way. It's only for me that I will and the edges of my path, are the steps I take. And do

sem título, Sebastião da Gama

A cada verso nasço ... É cada verso o meu primeiro grito... à Vida ... Depois, Se caminho apalpando e aos tombos, e se, aflito não atino e me perco até de mim . - é que, os raios do Sol cegaram, despiedados, meus olhos mal abertos , costumados à escuridão do ventre de onde vim . ========== Every verse I am born ... Each verse is my first cry ... life ... Then, if I walk around feeling and falling, and if, afflicted, I don't know and I lose myself even. - is that, the sun's rays blinded, ruthless, my eyes open, used to the darkness of the womb where I came from.

teimosia, Sebastião da Gama

Teimosia Não sei renunciar Literatura quando mostrei, Senhor !, de sacrifício. Minha ânsia de Luz, é já um vício, mania velha o meu sonhar Altura . Tudo comédia vil, tudo impostura ... Falei em desistir, por artifício : foi para Te comover pôr-Te propício minha humildade cheia de bravura . Eu - não mais reclamar minha Alegria ? ... Nem mesmo assim perdido pela estrada , que sou grande ou pequeno em demasia . Renuncia-me Tu, Deus !, se te apraz. Deixa de ser a Fome que me faz pedir, teimoso, a bússola roubada. =========== Stubbornness I don't know how to renounce Literature when I showed, Lord !, of sacrifice. My longing for Light is already an addiction, old mania my dreaming Height. All vile comedy, all sham ... I talked about giving up, by artifice: was to move You to make You propitious my humility full of bravery. Me - no longer claim my Joy? ... Not even lost on the road, that I am too big or too small. You, God, renounce me, if you like.

rebentação, Sebastião da Gama

rebentação Quem tiver dó de mim,  não mo diga mas venha e tenha dó. Talvez então me sinta menos só e me esqueça de mim... Ah!, se eu pudesse esquecer-me!... Se eu fosse com eles todos como se fosse comigo, tivesses gestos iguais, dissesse, não o que digo, mas só palavras banais como as deles... ... e achasse estas coisas todas coisas muito naturais! Mas não me esqueço, nem mesmo sou homem que se resigne. -O que já veio, que volte! Porque ensinou os meus olhos a viver em Claridade? Deixasse-os lá entre escolhos e trevas por que não davam!... Porém agora, que O vi que já fui d'Ele, a Saudade não é coisa que me baste. E eu quero tê-Lo de novo. Quero dar meu corpo virgem (que, desde que ele o beijou, é virgem que o sinto ser), eu quero dá-lo a Seus braços como se o meu corpo fosse um corpo nu de mulher. Quero que ele venha ser-me. Venha cumprir as promessas que Ele fez por minha boca. Ou então não nas fizesse. Que, se O eu nunca soubesse, afeito

caminho, Sebastião da Gama

Caminho Minhas carnes, gulosas de martírio, os golpes de meu Anjo as retalharam ;... Duas feridas ignóbeis se escancaram onde o Anjo cevou o seu Delírio . Mas são mais perfumadas do que um lírio ... E os meus lábios sedentos as seguram e elas e o seu sangue já me acharam a voz, qua a Deus se eleva como um círio. Ora o sangue esgotou-se e a voz morreu. Pobres golpes a medo ! ... - Vá ! Tomar meu corpo, ó Anjo !, em chagas de onde , quente, jorre o meu sangue em rio para o Céu ! Quero é nele beber 'té me afogar, e arrastar-me , afogado , na corrente . ================ Way My meats, sweet tooth of martyrdom, the blows of my Angel cut them apart; ... Two ignoble wounds burst open where the Angel fed up his Delirium. But they are more fragrant than a lily ... And my thirsty lips hold them and they and their blood already found me the voice, which rises to God like a candle. Now the blood ran out and the voice died. Poor blows to fear! ... - Go ! To

vontade, Sebastião da Gama

Senhor! Se não gostas que eu grite e que eu proteste Pedindo-Te a minha força, que levaste, dá-ma. Depois, se assim achares por bem, manda que eu feche os lábios de Poeta, faz da Tua vontade as cordas que me prendam os braços e as pernas, e deixa-me ficar ali atado, e deixa-me ficar ali, calado, ali, surdo àquela voz que vem do fim de mim e se parede tanto com a Tua. Ali, preso, a sentir-me maior do que ninguém, nessa alegria certa de saber que só não rompo as cordas e a mordaça porque não quero e Tu não queres também. =========== Sir! If you don't like me to scream and protest Asking You for my strength, that you took, lady. After, if you think so, tell me to close Poet's lips, make Your will the strings that bind me the arms and legs, and let me stay there tied up, and let me stay there, silent, over there, deaf to that voice that comes from the end of me and wall with yours so much. There, arrested, to feel bigger than anyone, in th

perfeição, Sebastião da Gama

Quendo Me vi perfeito, beijei-Me,... agradecido e comovido ... Ora o tal beijo acordou-me, gritou alto p'lo meu nome, a mostrar que eu era ainda o mesmo pobre Zé de Carne e Vício. Como se fosse possível l estar-Lhe eu presente a Ele, a Ele, o ponto final da linha recta de mim!... - Tão verdadeiro e perfeito, tão sentindo-Se o direito de ser ... e de não ter princípio nem ter fim, que Se não pode lembrar de perguntar se foi toda a vida assim . =========== When I saw myself perfect, I kissed Me, ... grateful and moved ... Now that kiss woke me up, shouted out my name, to show that I was still the same poor Joe and Meat and Vice. As if it were possible l be present to him, to Him, the end point the straight line from me! ... - So true and perfect, so feeling the right to be ... and having no beginning and no end, that if you can't remember to ask gone all life like that.

a gente os dois, Sebastião da Gama

A gente os Dois Quem faz os versos é Ele ... O que se não incomodou... em perguntar se o livro ficou lá, na livraria sem ninguém o ir comprar Eu sou somente um qualquer que, se tem dinheiro, compra os livros que o Outro escreve, pra Lê-los nos intervalos do bafio dos estudos. Um que, já farto de ler sem perceber, deitas o livro pela porta e diz, estúpido e baço : « Ai meus ricos dez escudos ... » ................................................. Mas o Outro não se importa . ============= The two of us He makes the verses ... What if it didn't bother ... to ask if the book stayed there, in the bookstore without anyone going to buy it I'm just anybody that if you have money, buy the books that the Other writes, to read them in between the breath of studies. One who, tired of reading without noticing, you throw the book through the door and says, stupid and dull: «Oh my rich ten shields ...» ...............................................

inquietação, Sebastião da Gama

Inquietação Porque será que eu ando ainda, que eu ando sempre à procura de aquela Estrela que já tão bem alcancei que a trago diluída no meu sangue?... ===== Restlessness Why am I still walking, that I'm always looking for of that Star that I already achieved so well that I dilute it in my blood? ...

remoinho, Sebastião da Gama

remoinho, Sebastião da Gama Enrodilhei-me no Vento... Vou e venho, vou e venho, e o Vento sempre a rolar-me, e agora quero agarrar-me, lanço a mão a procurar-me, e é só o Vento que apanho... ================== swirl, Sebastião da Gama I curled up in the Wind ... I come and go, I come and go, and the Wind always rolling over me, and now I want to hold on, I reach out to look for me, and it's just the Wind that I catch ...

divertimento, Sebastião da Gama

Não me acuseis de eu anuir convosco, de me esquecer do Outro, de me esquecer de aquilo pra que vim...; pois, quando isso acontece, é Ele que se esquece de mim... ========= Do not accuse me of agreeing with you, to forget about the Other, to forget what I came for ...; because when that happens, it’s Him who forgets about me ...

o impostor, Sebastião da Gama

Lá porque eu tinha os loiros na cabeça (os loiros que Ele deixara... cair ao chão de onde sou ), deram-me abraços, na praça, chamaram-me poeta e até fizeram discursos ... Ele, do Alto , sorriu e ria daquela tragicomédia dos meus ares de arlequim. Mas consegui fugir ao seu olhar ... Por fim, acreditava, tanto como os outros, que as palmas eram para mim . ========== Because I had blondes in my head (the blonds that He left ... fall to the floor where I am from), they gave me hugs, in the square, they called me a poet and even gave speeches ... He, from Above, smiled and laugh that tragicomedy of my harlequin look. But I managed to escape his gaze ... Lastly, believed, as much as the others, that the palms were for me.

O Messias, Sebastião da Gama

... Muito pior, muito pior, é eu gritar, berrar, enrouquecer,... no Caminho por onde vou contigo, e não ouvir, às vezes, uma só dessas palavras de Verdade que me digo ... É eu levar meus sonho e meus passos, pelos caminhos deles. lindos mas fingidos, por culpas de meus ouvidos, não de mim, que me ensinaram a dar passos bem medidos por caminhos não trilhados ... Assim, lá grito, e berro, e barafusto, rouco, e sem salvar nenhum dos outros nem me salvar a mim ... =============== ... Much worse, much worse, is to scream, scream, get mad, ... on the Way where I go with you, and not hear, sometimes, just one of these words of truth that I tell myself ... I take my dreams and my steps, their ways. beautiful but pretended, because of my ears, not from me, who taught me taking well-measured steps on untracked paths ... Like this, there I cry, and shout, and loud, hoarse, and without saving any of the others nor save me ...

brincadeira, Sebastião da Gama

Ando a correr atrás do Outro como fazem... dois meninos brincando num jardim ... ... até me achar de repente, sem saber como, o Outro lá da frente, que vai fugindo de mim ========== I'm running after the Other as they do ... two boys playing in a garden ... ... until I find myself suddenly, without knowing how, the Other from the front, that runs away from me

eternidade, Sebastião da Gama

Ai ó presença de Mim, tão raras e tão distantes !... Ai minhas longas ausências, durante as quais só sou isto : um homenzinho terreno, tão comedido e pequeno que até duvido se Existo. Mas, sempre que me despede o que eu sou de o que eu não sou, me deixa nas mãos , marcadas, ígneas profundas dedadas. Por isso sei que é Verdade e, se a descrença me toca, beijo as dedadas nas mãos até me arder toda a boca . Ai meu Amor, que juraste, ser só do Outro que encubro, e tão alto te escondeste que só nas visitas d'Este, p'los seus olhos , te descubro ! - Esses momentos de Mim, tão raros e tão diamantes, esses momentos-distantes, é minha Glória e meu Fim, a que não posso escapar, uni-los em um colar para o teu colo de garça . Minhas mãos e tuas mãos, que se fogem dês que a Carne me prendeu quando o colar for completo serão fecho do colar .... ... na nossa Noite, Amor ! contada de tanta Luz, tanta Estrela, que inda Deus não acendeu os Astros todos pra

aceitação, Sebastião da Gama

Aqueles dons, merecidos ou não, vinham do Céu..... Por isso eu os aceitei ... E não pedi , sobre esses dons, nem peço, qualquer explicação . E só por isso merecidos ou não já os mereço . ======= Those gifts, deserved or not, came from Heaven ..... So I accepted them ... And I didn't ask, about these gifts, nor do I ask, any explanation. And just for that deserved or not already deserve them.

Nós, Sebastião da Gama

Quem não quer vir, que não venha, que o dó me faz perdoar ... e persistir na Campanha. Talvez, quando eu já for percebido, se arrependam, e a troça então se lhes mude num sorriso constrangido. Não venham, que eu vou por eles e gritam por mInha boca suas bocas, fechadas, ou por vergonha, ou por orgulho, ou por falta de aquela fé que me arrasta. Descansem! Se eu lá chegar, faz de conta que quem chegou foram eles; e faço da mu1tidão a capa para os meus ombros; e Deus, que não me distingue (eu com todos me pareço), pra não deixar-me sem prémio há-de dar a cada qual o prémio que eu só mereço. Se eu lá chegar... Mas eu chego!... Nem que de aqui a trés passos se me cansassem os braços e as pernas se me partissem e a vida se me acabasse, ali, na terra, caído, já eu teria chegado: tanto vale minha Esperança, que o Céu começa onde quer que eu solte a última voz; e a Mão que as feridas me afague, no gesto de as afagar, deixou as portas do Céu abertas de par