Excesso, SEBASTIÃO DA GAMA

Excesso

Agora, que estou
de Poesia todo embriagado,...
agora, que todo doido e em convulsões
como se envenenado,
não quero mais que o teu sono ...

Compreendes , Amor ? ...
Quero deitar-me ao teu lado,
e que o meu corpo fique ali como um penedo
a que a minh'alma se me ausente e, unida à tua
não sendo já senão a tua,
durma teu sono de pomba,
o teu sono de pomba, cor-de-rosa,
e não os meus pesadelos ...

Compreendes, Amor ? ...
Dormir, não meus, mas teus soninhos mansos
em que há meiguices de fadas
e sorrisos de crianças
que são como se Deus nos perdoasse ...
Porque eu não posso, Amor,
suportar
o veneno que Deus ( ou o Diabo )
misturou no meu vinho ...

Que bom
que me seria agora ser
não eu, o Lua, o pelo Raio atravessado,
mas tu, ou qualquer outra virgem no seu quarto
sonhando com o Príncipe Encantado ! ...

============
Excess

Now that I'm
of Poetry all drunk, ...
now, that all crazy and in convulsions
as if poisoned,
I want nothing more than your sleep ...

Do you understand, Love? ...
I want to lie down next to you,
and let my body stay there like a boulder
that my soul is absent and, united to yours
being none other than yours,
sleep your dove sleep,
your dove sleep, pink,
and not my nightmares ...

Do you understand, Love? ...
Sleep, not mine, but your gentle snooze
where there are fairy tales
and children's smiles
that are as if God forgives us ...
Because I can't, Love,
support
the poison that God (or the Devil)
mixed in my wine ...

How nice
that I would now be
not me, the Moon, the crossed Ray,
but you, or any other virgin in your room
dreaming of Prince Charming! ...

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